No ano de 1500, a expedição comandada por Pedro Álvares Cabral chegou à costa do que hoje conhecemos como Brasil. Embora o termo “descobrimento” ainda seja usado, é importante reconhecer que aquele território já era habitado há milênios por civilizações complexas. No entanto, para o projeto de expansão marítima de Portugal, aquela terra representava uma nova fronteira de possibilidades.
Portugal, naquele momento, era uma potência naval em plena Era dos Descobrimentos. Ao contrário do que se costuma afirmar, os portugueses não tinham apenas intenções exploratórias. Havia, sim, interesses comerciais, mas também havia um projeto estratégico e civilizatório de ocupação e expansão do reino além-mar (Boxer, 2002).
A chegada à costa brasileira foi seguida de uma primeira tentativa de compreender o território e seus habitantes. A carta de Pero Vaz de Caminha, um dos documentos mais importantes da nossa história, revela o espanto e o encantamento com a terra encontrada: rica, fértil, com um povo aparentemente amistoso e aberto ao contato. Esse primeiro encontro, apesar de assimétrico, não foi imediatamente violento. Houve troca, curiosidade e uma tentativa de entendimento inicial (Serrão, 1978).
Um dos trechos mais belos e simbólicos da carta diz:
“…em se plantando, tudo dá.”
Essa frase, embora curta, tornou-se símbolo do potencial produtivo e da exuberância natural do Brasil. Reflete o olhar de maravilhamento de quem via, pela primeira vez, a vastidão verde de um território virgem aos olhos europeus.
A carta pode ser lida na íntegra : https://portalabel.org.br/images/pdfs/carta-pero-vaz.pdf
Nos primeiros anos após o descobrimento, o interesse português pelo Brasil ainda era tímido. As riquezas imediatas não saltavam aos olhos como na África ou no Oriente. No entanto, com o tempo, Portugal percebeu que, para garantir a posse daquela terra — ameaçada por franceses e outros povos europeus — seria preciso ocupar e organizar o território. Começa aí a transição de uma simples presença ocasional para um projeto de colonização efetiva, que incluía a fundação de vilas, o envio de jesuítas e o estabelecimento de normas administrativas (Fausto, 1994).
Esse início de ocupação se deu com o extrativismo do pau-brasil e a construção de uma rede de escambo com os povos indígenas. Mas o mais importante é compreender que, desde o princípio, o Brasil não era apenas um entreposto comercial: era um território com potencial de continuidade, uma extensão viva do Reino de Portugal.
Bibliografia
- Ribeiro, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
- Hemming, John. Os Índios e o Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1978.
- IBGE. Atlas Nacional do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2020.
- FUNAI. Fundação Nacional dos Povos Indígenas. Dados e relatórios institucionais.
- Instituto Socioambiental (ISA). Povos Indígenas no Brasil. www.socioambiental.org
- Viveiros de Castro, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
- Boxer, Charles R. O Império Marítimo Português. Lisboa: Edições 70, 2002.
- Serrão, Joel. História de Portugal. Lisboa: Editorial Verbo, 1978.
- Fausto, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1994.